O espírito livre, criativo e inclusivo que tomou conta de Porto Alegre entre os anos 1980 e 1990 ganha novo fôlego nas telas com o documentário “Porto de Elis”, dirigido por Flavia Gazola e roteirizado por Renato Del Campão. A obra, viabilizada com recursos da Lei Paulo Gustavo, por meio de edital da Prefeitura de Caxias do Sul, mergulha na memória de um dos espaços mais emblemáticos da cena artística gaúcha.
Localizado nos altos da Avenida Protásio Alves, no bairro Petrópolis, o Porto de Elis funcionou como teatro-bar entre 1984 e 1994. Surgido em pleno contexto de redemocratização do país e do movimento Diretas Já, o espaço se tornou um epicentro de efervescência cultural e social. Mais que um palco, era um ponto de encontro para artistas, pensadores, músicos e um público diverso que buscava liberdade de expressão e novas formas de viver a arte.
O documentário apresenta depoimentos emocionantes e imagens inéditas de uma época vibrante, marcada por criatividade, cooperação e inclusão. Artistas como Greice Gianukas, que brilhou com a peça “Não quero droga nenhuma”, e Adriana Calcanhoto, que iniciou sua trajetória artística no local, compartilham lembranças afetivas. “Eu fui me inventando com a invenção do Porto de Elis”, afirma Calcanhoto.
O espaço foi palco para o nascimento de lendas do Rock Gaúcho, recebendo bandas ainda em seus primeiros acordes. Também abriu portas para artistas como Fernanda Abreu, Cássia Eller, Zélia Duncan, Dulce Quental e o grupo Banda Luni, com Marisa Orth. Peças como “Carrie, a Histérica”, marco do besteirol gaúcho, e o grupo de dança Baletto, que sacudiu a cena do RS, também tiveram ali seus momentos de glória.
A atmosfera do Porto de Elis ia além do palco. A diretora Flavia Gazola foi pioneira ao instalar um circuito interno de TV no bar, produzindo comerciais, vídeos interativos e shows que ampliavam o alcance cultural do espaço. O documentário ainda destaca o papel do VHS como ferramenta de democratização audiovisual e apresenta projetos como o Segunda Sem Lei, criado por Egisto Dal Santo e Claudio Calcanhoto, que promoveu bandas e tendências culturais.
A influência do Porto de Elis ultrapassou os limites de Porto Alegre. Em Caxias do Sul, uma filial do espaço fomentou a mistura de tribos, estilos e comportamentos, como relembra o colunista João Pulita, do Jornal Pioneiro.
A pré-estreia do documentário aconteceu no dia 15 de maio, na Cinemateca Paulo Amorim, em Porto Alegre. Em Caxias do Sul, a exibição será no dia 21 de maio, no Centro de Cultura Ordovás. A partir de julho, o filme estará disponível gratuitamente no canal do YouTube @medicaltv, reforçando a ideia de que, como diz Flavia Gazola, “cultura também é saúde”.
O perfil no Instagram @clubedoporto2025 reúne bastidores, novidades e trechos exclusivos do projeto. A trilha sonora é um espetáculo à parte, com Valéria Barcellos interpretando a música-tema composta por Ricardo Severo, também responsável pelo desenho de som do filme.
“Porto de Elis” é mais do que um documentário — é um tributo à memória cultural de uma geração que ousou transformar o mundo através da arte.