José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai, faleceu nesta terça-feira (13), aos 89 anos. Figura emblemática da política latino-americana, Mujica liderou o país entre 2010 e 2015, deixando um legado marcado por simplicidade, firmeza ideológica e reformas sociais profundas.
Em abril de 2024, ele tornou público o diagnóstico de um tumor no estômago, revelando que o órgão estava “muito comprometido”. A situação se agravava por conta de uma doença autoimune que o acompanhava havia mais de duas décadas e comprometia os rins, dificultando tratamentos como quimioterapia ou cirurgia.
Meses depois, em outubro, Mujica emocionou o país com um discurso de tom despedida, ao afirmar estar “perto de se retirar para o lugar de onde não se volta”, em sua primeira aparição pública após deixar o hospital. Na ocasião, sua médica chegou a afirmar ter “fortes convicções” de que ele estaria curado do câncer, mas reconheceu que a saúde do ex-presidente seguia frágil.
Nascido em Montevidéu, em 20 de maio de 1935, José Alberto Mujica Cordano entrou para a história desde cedo. Nos anos 1960, integrou a guerrilha do Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, grupo armado que desafiava a ordem vigente em busca de justiça social.
Durante a ditadura militar, foi preso por 14 anos sob condições extremas. Sofreu torturas, passou longos períodos em solitária e foi considerado um dos “reféns” do regime — condenado à morte sumária caso os Tupamaros voltassem à luta armada.
Com a anistia decretada em 1985, Mujica foi libertado e migrou para a política institucional. Fundou o Movimento de Participação Popular (MPP), braço da esquerda uruguaia, e foi eleito deputado em 1994. Em 1999, chegou ao Senado. Com a eleição de Tabaré Vázquez à presidência em 2005, assumiu o Ministério da Agricultura.
Em 2010, conquistou a presidência e conduziu o país até 2015. Durante sua gestão, ampliou os investimentos sociais — que saltaram de 60,9% para 75,5% do orçamento público — e promoveu o aumento do salário mínimo em 250%. Entre suas propostas mais ousadas, destacou-se a legalização da maconha em 2012, tornando o Uruguai pioneiro no tema.
Pepe Mujica sai de cena como entrou: com autenticidade, coragem e compromisso com os mais vulneráveis. Seu legado ultrapassa fronteiras e inspira gerações.